sábado, 7 de novembro de 2009

O que o YouTube está matando

 
 

Enviado para você por Penha através do Google Reader:

 
 

via Tiago Dória Weblog de Tiago Doria em 02/11/09

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Lembro que duas coisas chamaram a minha atenção quando acessei pela primeira vez o YouTube, lá em meados de 2005. O fato dos vídeos "rodarem" no Firefox ("Finalmente um site de vídeos que abre no Firefox", pensei na época) e a questão de poder embutir o vídeo em um post do blog.

Na época, quando noticiei no blog, defini o YouTube como "uma espécie de Flickr dos vídeos".

A primeira característica nem tanto, mas a segunda, poder embutir os vídeos, ainda é vista como um dos principais motivos do sucesso do YouTube. A capacidade de você poder incorporar em um post um vídeo do YouTube apenas copiando e colando um código HTML (código embed).

Na época, o artifício foi visto como uma simples "firula" ou "diferencial" de um novo site de vídeos feito por nerds, mas já revelava a futura estratégia de negócios do YouTube, de criar valor em torno da circulação e não do controle de informações, o que ia contra o modelo tradicionalmente adotado pelas plataformas de mídia. O "código embed" também abriu caminho para que os vídeos do YouTube fossem inseridos em diferentes mercados culturais.

De 2005 até hoje, o YouTube cresceu e mudou. Deixou de ser ferramenta de nicho. Foi comprado pela Google em 2006 por US$ 1,65 bilhão. Ficou no meio termo entre ser amigo ou inimigo dos grandes estúdios. Virou palco da guerra dos direitos autorais, plataforma para lançamento de campanhas publicitárias virais, além de arquivo acidental cultural de uma época.

E agora faz parte da cultura popular. Não há quase como negar.

Nesses 4 anos, dois rótulos não escapam.

O primeiro deles. É um "metanegócio" (termo criado pelo tecnólogo David Weinberger), negócio que aumenta o valor da informação produzida em outro lugar. O segundo, é um exemplo de convergência entre as chamadas novas e velhas mídias. Ao mesmo tempo que abriga novos atores, dá visibilidade ao material e às referências vindas da televisão.

E é nessa convergência de mídias que surgem os conflitos em relação a direitos autorais e usos do YouTube. Um dos desafios atuais mais evidentes da YouTube Inc, empresa que gerencia o YouTube, é lidar com as demandas simultâneas dos vários públicos que utilizam o site.

Neste cenário, surgem questões. O YouTube está no mercado de plataformas de mídia ou de redes sociais? Seu papel é criar relacionamentos ou meramente ser uma plataforma de distribuição?

Em geral, ainda influenciadas pela cultura da radiodifusão, empresas tradicionais de mídia veem o YouTube mais como uma tradicional plataforma de mídia. Mais como um canal para escoarem o seu conteúdo e servir de isca para atrair público para outros lugares.

Neste sentido, se preocupam mais com o número de visualizações do que com as conversas que surgem nos comentários do YouTube.

youtube_livro01

O mesmo acontece com o Twitter. Muitas vezes, empresas de mídia com uma abordagem mais tradicional somente se interessam pelo Twitter quando percebem que ele pode ser uma fonte de tráfego e de visibilidade para o seu conteúdo.

Preocupam-se mais em ser "retuitados" do que criar relacionamentos. O que também é válido. Mas apenas enxergar esse "caráter promocional" do YouTube e do Twitter, de dar mais visibilidade a um conteúdo, é aproveitar apenas 30% do potencial dessas ferramentas.

O livro YouTube e a Revolução Digital (240 páginas/Aleph Editora), de Jean Burgess (Universidade de Queensland) e Joshua Green (MIT), recém-lançado no Brasil, mostra que grande parte do potencial do YouTube está na capacidade de criar relacionamentos e incentivar a criatividade popular.

É o segundo livro a respeito do site de vídeos que surge de um trabalho acadêmico. O primeiro foi "A televisão será revolucionada", de Amanda Lotz, lançado em 2007.

Além disso, YouTube e a Revolução Digital é um dos primeiros trabalhos dedicados a analisar o YouTube não como uma plataforma de distribuição, mas sim de relacionamentos. Ou seja, vê mais o seu caráter de rede social. Revela, por exemplo, que os usuários do YouTube expandem a sua interação para outros sites, como o Stickam, que permite fazer transmissões ao vivo de vídeo.

Ademais, não ficam presos a restrições tecnológicas e à arquitetura do site. Se o YouTube não tem determinado recurso, eles tratam de utilizar aplicativos e sites que complementam os recursos padrões do YouTube. Qualquer semelhança com o usuário do Twitter, que geralmente utiliza diversos aplicativos satélites criados em torno do serviço de microblogging, não é mera coincidência.

paris_hilton_01Sobre o futuro do YouTube? Segundo os pesquisadores, a sustentabilidade será um dos principais desafios do site de vídeos nos próximos anos. Da mesma forma que o Twitter,  a entrada de celebridades afetou a sustentabilidade do YouTube.

A aparição de Oprah e de Paris Hilton, que passaram a ter canais exclusivos no site de vídeos, mudou o relacionamento da comunidade de usuários com a YouTube Inc.

Afinal, a YouTube Inc trabalha para o conteúdo amador, o Broadcast Yourself, lema do site, ou para atender às exigências das "grandes emissoras de TV e dos estúdios"? Ela conseguirá manter no YouTube ao mesmo tempo as abordagens "bottom-up" e "up-bottom"?

YouTube e a Revolução Digital foi escrito em um tom de texto mais acadêmico, o que pode tornar a leitura não muito fluída para quem não está acostumado ou não gosta deste tipo de texto. E na edição brasileira, o link fornecido para conferir o "material exclusivo" em relação ao livro não funciona.

Porém, para mim, o mais interessante da leitura do livro de Burgess e Green é vê-la em um contexto maior. Neste sentido, não é um livro sobre o YouTube, a "cultura participativa" e os seus usuários, mas sobre como o nosso modo de consumir conteúdo mudou.

youtuberev_capa01Somos consumidores de mídia mais ativos. Não no sentido político ou ativista. Mas de não aceitar somente a narrativa baseada no "dito e feito". Nisso, Burgess e Green lembram que participar do YouTube não é apenas criar conteúdo original, fazer upload de material novo, mas a atitude de colocar um vídeo nos favoritos ou assinar um determinado canal do YouTube é também um ato de participação. São formas de expressão.

Para exemplificar, é citado o caso do discurso do primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, com um pedido histórico de desculpas aos povos nativos da Austrália, feito em fevereiro de 2008.

No YouTube, ao lado do vídeo com o discurso de Rudd, há vários outros, que destacam apenas os trechos mais importantes, algumas paródias, outros que relacionam o pedido a músicas. E mais alguns em que usuários discursam em frente a webcam afirmando se são a favor ou contra o pedido.

Em suma, ao lado do vídeo do pedido de desculpas, vários "remixes" em torno do conteúdo original. No caso, assistir à transmissão do pedido foi apenas o início da experiência com o conteúdo, com a notícia. O consumo deixou de ser apenas o ponto de chegada. É o início da experiência.

Ou seja, a questão não é somente sobre contestar as antigas regras de direitos autorais, pois, a longo prazo, o que o Youtube está ajudando mesmo a matar é a narrativa baseada no "dito e feito".

Veja também:
Linha do tempo mostra histórico dos vídeos no YouTube

Crédito das fotos:(1) WizeTux, (2) Mark Roquet, (3) reprodução, (4 e 5) divulgação


 
 

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